Não sei se é uma característica de todas as pessoas da minha espécie de gente ou desse mundo que só eu habito, mas volta e meia acho que derramar todo choro é o que deve ser feito. Essa inundação violenta que se abate dentro do corpo - por fora sólido - nada resolve se ficar ricocheteando nas paredes do tórax.
Começa pelas mãos.
Os dedos procuram qualquer superfície tamborilável, mas essa parte eu acredito que seja só minha. Isso das mãos denunciantes. E também se não for, se tê-las agonizantes for patológico do ser humano, pouco me importa. Cada um acredita ser especial justamente por aquilo que guarda a sete-chaves, justo por medo do seu precioso ato-falho ser o de outro também. Depois vem o fôlego, a respiração,
e aqui não vou ter a audácia de dizer que é particular meu. Eu mesma já vi muitos colos subindo e descendo; narinas dilatando/contraindo, e é assim mesmo. Meio feio, como se estivesse afogando por dentro e daí o que se faz é olhar para qualquer lado. Quem sabe até virar os olhos para dentro de si, a fim de não encontrar as janelas oculares enxutinhas do indigente que está bem à frente. O que o brilho dos olhos quer dizer nesse momento é "tomara que o vento passe e seque meu olho". Mas isso não vai acontecer, meu caro. Pode até ser que o vento passe, mas há uma enchente inteira querendo sair e o ser mais próximo irá te abraçar sem dúvida alguma. É um tanto ritualístico isso, inclusive. O que acho então é que os olhos deveriam berrar "corram para as montanhas!", mas o que conseguimos na verdade é um colete salva-vidas. Não reclamo. Quando acontece de um rio inteiro me invadir, eu quero mais é que transborde, como tudo em mim.
Não resolve. Não acalma. Não reestabelece a homeostase da alma.
Se não é para me preencher por todos os cantos, melhor que não comece a fazê-lo.
Ao chorar, sinto mesmo é que vou ser abraçada pelo mundo, que vou deitar nos ombros do meu Deus e a providência me agradecerá por estar irrigando sua terra com pingos de mim. brotarão então pequenas folhas e caules que serão troncos logo mais. Nascidos para me dar sombra.
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